top of page

Não sou particular apreciadora de nozes. Para ser honesta, “apreciar” quando utilizado na negativa é o eufemismo social por excelência na minha família. “Não aprecio fado”, dizia a minha avó, timidamente, quando as visitas mencionavam o ex libris nacional quando dentro da sua cabecinha aragonesa apenas se ouvia flamenco.  O que significa que o que eu quero mesmo dizer é que detesto nozes.

​

Paradoxalmente, guardo uma certa fascinação pelo que representam. O aspeto circunvalado como metáfora perfeita do intelecto. Algumas nozes guardam lá dentro o mundo inteiro. O que há na minha noz, em todas as nossas nozes constitui, com toda a probabilidade, no recurso natural mais escasso, perecível e frágil.

​

Por outro lado, não deixam de ser, contudo, um recurso linguístico de interesse. Especialmente do ponto de vista anglo-saxónico, onde as acepções urbanas, algumas delas pouco recomendáveis, vão desde a loucura (“you’re nuts” seria francamente aplicável à quase totalidade da população americana) à coragem (aquele célebre “get some nuts” berrado através de um spot publicitário televisivo fez metade da população masculina ponderar se a sua masculinidade dependeria do consumo diário de um chocolate).

​

Fiquei presa nestas duas palavras. No curto espaço de tempo que já albergou a minha existência, “loucura” e “coragem” posicionam-se confortavelmente entre o conjunto de palavras que mais amei. Ligeiramente abaixo de “mãe”.

​

Quem tem uma nozinha hipercinética como eu tem muita dificuldade em não imprimir tanta agitação a uma caneta ou computador. Este sítio não é mais do que o papel. O produto direto de uma noz inquieta. Com wifi por perto.

bottom of page