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| 2# O cheiro do sol

  • thenutsbook
  • 7 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Dedicada à Simone Bartee e a todas as meninas da geração dela.


CORONAPAUSA.


Este foi o mote para a recolha de material desta semana. Como de vez em quando acontece, o banco de imagens que me ajuda a ir compondo estas publicações, achou por bem enviar-me as pesquisas mais populares do último mês. Ora vejam:


(Créditos da Dreamstime)


A conclusão evidente é que estamos infetados, pobres e a recorrer à bricolage para preencher a quarentena. Ah e que os Estados Unidos têm uns quantos problemas extra para resolver. Mas há mais. Ultimamente, olhemos para onde olhemos, é difícil não encontrar destruição. De vidas, de trabalho, de prespetivas de futuro a curto (e, quem sabe, médio prazo). Só que esta semana aconteceram duas coisas.


Compreendemos colectivamente - espero eu - que as grandes nódoas no tecido social que formamos continuam bem presentes, perante a nossa cedência permanente à tentação de acreditar que o passar do tempo e o progresso civilizacional irão atenuar as diferenças que ainda existem sem qualquer esforço da nossa parte. A civilização somos nós. E grande parte dela já esperou tempo demais.


E por cá, tomámos consciência - eu também - de que se calhar não nos livramos do bicho assim tão rápido. Com os hospitais a recuar na retoma da atividade assistencial "normal" e a subida exorbitante do número de contágios no nosso querido distrito capital - em algumas zonas tão empobrecido como só ele sabe - obrigaram-nos a pensar que a destruição que referi no início pode continuar a dominar o nosso universo durante mais algum tempo.


Assim que só nos resta mesmo a bricolage. Ou como quem diz. Em vez de ficar deprimida, resolvi olhar para cima. A 400 Km de distância, girando alegremente sobre as nossas cabeças, já estão os dois astronautas que lançámos - literalmente - há dias atrás. Ali, a construir coisas para todos. A nós, cabe-nos fazer o mesmo. Ir construindo lado a lado com as falhas, os desastres, as dificuldades.


E começando a partir das nossas cabeças - elas próprias cenários de destruição muitas vezes - gostei muito de ler este artigo sobre o que podemos fazer, desde já, para nos posicionarmos do lado certo da história. E para fazer com que as páginas seguintes sejam diferentes. Se tanta informação parecer demasiado avassaladora, fica aqui a demonstração de que o Instagram também nos pode ensinar alguma coisa. Não concordo com tudo o que aqui está (talvez seja falha minha, ou talvez - de certeza - todos tenhamos sensibilidades diferentes) mas deu-me algo em que pensar.


Esta história do "El País" fez a mesma coisa, mas em sentido contrário. A Junta de Andalucia foi insultada em todas as direções por utilizar a imagem abaixo nas suas redes.


(O trabalho é da Miriam)


Machista. Rotuladora. Prepetuadora de Estereótipos. Degradante para a mulher. Tudo o que vocês quiserem. No fim, as autoridades locais tiveram de vir explicar que a obra era na realidade uma encomenda dos protagonistas - afinal de carne e osso - a enfermeira Olga e o Polícia Raúl, marido e mulher que tinham enfrentado a pandemia juntos, desde ângulos distintos e que em conjunto com a artista autorizaram a sua publicação. E eu queria agradecer-lhes porque as fronteiras dos construtos sociais são finas mas a noção é para todos.


Agora, o rebuçado da semana. Descobri um podcast maravilhoso sobre música tradicional do outro lado da fronteira (perfeito para o meu gosto geriátrico) que inclui um capítulo chamado "Portugal, meu amor." E ainda no rescaldo do mês mais universitário do ano (que tive oportunidade de chorar aqui), foi uma delicia descobrir uma coisa chamada "Estudantina Portuguesa" que canta ao vinho do Porto e ao mar português... em bom castelhano.


Ainda sobre construir no meio do caos, recomendo esta reinvenção da analogia da lagarta e, regressando ao planeta das pessoas normais com problemas reais, este testemunho sobre como podem os povos nativos americanos - que tiveram o seu próprio apocalipse - ensinar-nos a superar o momento que todos vivemos.


Para terminar, gostaria de relembrar que há coisas que continuam no sítio. É quase Verão, com tudo o que ele significa. Todas as maravilhosas memórias de infância. De viagens de carro que levavam horas e pores do sol que durarão anos cerebrais. E há qualquer ponta de eletricidade no ar, qualquer promessa de um metro quadrado de areal, de música aos berros e decisões francamente questionáveis que quase se consegue cheirar. Afinal, toda a gente sabe que o Verão é como a música dos Abba: tem sempre 17 anos. E dança como ninguém.


(A minha reação perante o anúncio da suspensão de atividade não-urgente nos hospitais de Lisboa, quando já estava à espera da abertura das discotecas.)

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