5ht Ave & 82th St, 13 de Setembro de 2024
- thenutsbook
- 7 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Devíamos ter começado pelo MET, não devíamos? Quando o dia termina, o meu telefone diz que andei 23 km. E eu acredito porque nos dias anteriores nunca andei menos de 20 e a extensão daquilo é infinita. Depois desta visita, fico convencida de que até a história se pode comprar, de certa forma. Num país com uma tão recente, é a nossa, europeia, que é comprada e trazida peça a peça, se for preciso. Dois anos depois de ter visitado a Catedral de Valladolid, viajo 5000 km e dou de caras com a grade do coro da mesma, datada do século XVIII e salva da destruição no século XX quando foi retirada no contexto de umas obras de modernização e incluída no acervo (certamente a troco de uma quantidade absurda de notas com rostos presidenciais). Somos o vasilhame dos norte-americanos. Até o que consideramos lixo é rentabilizável para eles.
Termino a visita com a sensação inquietante de que a Europa vive à custa da promoção do seu legado histórico e artístico enquanto as outras grandes potenciais procuram viver da construção e promoção de um futuro. Dentro do nosso mar azul de estrelitas, ainda vamos vivendo com o queixo erguido de nos sentirmos o baluarte dos melhores valores humanos. Mas aqui, o nosso passado é apenas lazer. Em 2009, quando a Grécia se tornou um embaraço com bandeira própria, perguntava-me como é que a nação-berço de palavras como “democracia” e “filosofia” podia ter-se reduzido ao que víamos nos telejornais. Não sei até que ponto não é a Europa toda que caminha agora nesse sentido, à medida que o que fomos deixa de ser sexy e vai restando apenas o que somos agora. Uma coisa é certa: não há imperativo moral de Kant que convença a senhora do supermercado a deixar-nos sair sem pagar a conta.
Regresso ao hotel sem precisar de mapa pela primeira vez. E aí é outro imperativo que me chama. Outra daquelas funcionalidades mitocondriais: quando passas duas vezes pela mesma rua, é altura de ir embora.
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