Apanhou-me desprevenida. Apanham-me sempre, os malandros. Os familiares dos doentes. Logo de manhã, indicador universal de quem tem o despertador "ansiedade" ligado contra todas as forças e nem sempre compreende que apesar da sua pessoa ter entrado pela Urgência há 12h atrás, provavelmente só chegou a mim há 10 minutos. Àquela hora, sei quase tão pouco como quem me liga. Sei o que procuro saber assim que chego, como fazemos todos. Se aqueles que lá deixámos ontem ainda estão e se estão estáveis o suficiente para podermos começar a rotina do trabalho diário. Naquele dia, não foi bem assim. O meu doente instável viria a deixar de estar 5h depois mas isso não me impediu de passar a manhã à volta dele. Confesso que ainda não encontrei bem a linha de que toda a gente fala mas nesse dia vislumbrei-a por um bocadinho.
- Filha?! Oh filha, estou bem, estou bem! Estou onde devia estar. Estou naquele onde já estive da outra vez! Mas as pessoas são incansáveis, muito atentas. Mas estou bem, não estejais em cuidados por minha causa! Já pedi para me trazerem o telefone. Vá, filha, adeus!