Há coisa de um mês, comecei a explorar uma ideia nova, baseada num conceito velho. Depois de um Verão que será para sempre recordado, pelo menos entre nós, como o “vale do COVID19”, Outubro chegou e trouxe com ele uma constatação incontornável: todos os vales estão entre dois picos. E a subida do número de casos estava apenas a começar.
Encarar a vida a meio-gás, sem perspectivas de aceleração ainda me leva a sentir-me desesperada, de vez em quando. Crises momentâneas e autolimitadas que se caracterizam por nada menos que todo um espetáculo de berreiro interior que faria um camionista corar, se me ouvisse. Há doentes que se queixam de febre interior, não há? Pronto, a minha alma é uma histérica interior e pragueja como se alguém lhe tivesse pisado o mindinho. Até agora, tenho evitado abordar publicamente - literariamente - a questão. Escrevi coisas chamadas “Estamos todos bem”, enquanto me enroscava como um bicho assustado entre o sofá e o cobertor. Bocados de papel que costumam funcionar maravilhosamente bem no tratamento da doença aguda, mas que de pouco servem quando a coisa evolui para a cronicidade. Esta pandemia começa a parecer uma hepatite com 20 anos de evolução e o meu “fake it until you make it já não está a resultar.
Assim que hoje é o primeiro dia da nova estratégia terapêutica. Está bem, Universo. Mordo o isco. Vamos falar de pandemia, da trágica atração humana pelo absurdo, desta estranha impressão de ter um rufar constante de tambores bélicos em pleno concerto na base da nuca. E como sempre, vamos falar de Ti. Dos recantos que te descobri, transformados durante toda esta loucura. E dos pedaços partidos que guardarei à socapa, dentro da mochila, como mantras para o futuro. Seja ele qual e como for. Chegue quando chegar.
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