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Cor de Laranja



Estou a tentar melhorar a minha relação com o caos. O que, dito assim sem contexto, soa a qualquer coisa como tentar tornar-me amiga de um leão adulto que não come há 3 dias. Como se qualquer um dos dois pudesse ser domesticado, quando na realidade, quem precisa de domesticação sou eu. Não sei qual dos dois é mais difícil.


Dentro da obsessão com o desenvolvimento pessoal e a paz interior (desejamos o que temos mais dificuldade em conseguir, como sempre), cheguei à conclusão de que uma das 4839 fontes da minha ansiedade é a Obsessão com o Controlo, com o cumprimento das Metas e com o Perfecionismo.


Claro que quando cheguei a esta conclusão a primeira coisa que fiz foi ficar Obcecada, esboçar um plano para Controlar a situação, o qual, naturalmente incluía Metas a cumprir que culminariam no meu aPerfeiçoamento como ser humano. Estão a perceber o problema?


Eu também percebi. Quando me farto dos meus colapsos nervosos diários, recuso-me a deitar-me até que tudo esteja concluído. Estamos nessa fase agora. Nas últimas 48h dormi 3h+5h. Está tudo bem mas pergunto-me como serei capaz de gerir a minha existência se algum dia o meu corpo deixar de ter uma resistência de nível Presidencial.


Estou a trabalhar na coisa. A sério que estou. Esta fotografia é do meu carro, no último fim de semana. Uma vez por mês vem carregado até à antena com o fruto daquele pedacinho do costume. Não me canso do espanto contínuo que vem de saber que o trabalho dos meus bisavós continua a alimentar-me a mim. É uma maravilha mas não é algo que tenha em conta durante a condução e, se tiver de travar a fundo, vou naturalmente ignorar que estou a transformar o porta-bagagem numa piscina de bolas coloridas.


O pensamento dos minutos perdidos a conter a entropia que é a banda sonora oficial da minha cabeça teria tomado conta de mim em todas as circunstâncias. Mas desta vez havia uma atenuante: caramba, que imagem bonita.


Pensei na minha família, que não vejo há tanto tempo. Éramos assim, todos juntinhos, coloridos, expansivos, barulhentos. Espanhóis, portanto. E foi impossível não perdoar aquele primeiro caos, amando tanto o segundo.


Infelizmente, ainda não sou capaz de sorrir com esta leveza em todos os momentos em que o Mr. Bean que vive cá dentro decide exibir-se mas estou a treinar-me lentamente para aceitar o caos que acontece mesmo apesar do meu maior esforço. Mais que não seja, por respeito à beleza que possa trazer consigo. Experimentem. Se tiverem muita sorte, como eu, até pode ser que o vosso caos seja comestível.

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