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Do nada


Este é o meu terraço. O nosso. O daquela casa perdida numa aldeia da qual eu nunca deixo totalmente de falar. Foi tirada pela minha mãe durante a primeira vaga. Naqueles tempos em que todos tínhamos uma crise de ansiedade por ter 100 casos por dia. Eu estava em Santa Maria. Ela no seu exílio forçado. Claro que o pior estaria para vir muito mais tarde, mas do ponto de vista psicológico, os dias mais duros foram aqueles, do isolamento abrupto. Da solidão repentina. Da sensação sufocante de desamparo. Numa dessas manhãs de anestesia autoimposta (não penses, levanta-te, toma banho, come, vai trabalhar, mantem-te ocupada, não penses de novo), esta fotografia chegou. Estava sol por aqueles lados e a companheira da outra frente de batalha também procurava manter-se ocupada. Transformando o nosso jardim num arco-irís ao vento.


Agora descobri que alguém teve uma ideia muito parecida. Em vez de um arco-íris, a artista Helga Stentzel resolveu criar uma manada e o resultado está na foto do lado. Num mundo de pessoas obcecadas (mea culpa incluída) com o consumo imediato, é reconfortante a ideia de que existem pessoas que são capazes de pegar num trapo velho e arrancar-nos um sorriso com ele.


https://www.thisiscolossal.com/2021/02/helga-stentzel-clothing-animals



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