Não sei o que é que entra no vosso conceito de acordar com os pés de fora mas para mim começa no dia anterior. Quando me deito ainda com a lista do dia a meio por cumprir mas vergada pela consciência do inevitável: já não posso mais.
Deitei-me assim ontem e acordei, antes do despertador, completamente gelada. Não me perguntem porquê, que também não sei. Numa última tentativa desesperada de descansar mais um bocadinho, encostei a bochecha fria a um pedaço quentinho da almofada e pensei que talvez conseguisse reaconchegar-me para uns instantes de sono antes do toque fatal. Não tive de esperar um segundo. Piiiiiiiiiiiii.
Resignada, arrastei-nos para a cozinha: a mim, ao termoventilador e aos dois calhamaços que estou a ler de momento. Sim porque não há sobrecarga de agenda que se interponha entre mim e a possibilidade de estar em Lisboa, Madrid e Calcutá ao mesmo tempo.
5h40 e já li um capítulo de cada. Sobra 1h - para qualquer tarefa que esteja pendente - antes de começar a arranjar-me. Vou sentar-me à secretária e para tal tenho invariavelmente de passar pelo tocador. E juro que são 5h41 quando a seguinte inquietação cruza o meu pensamento: será que este dia melhora se eu puser pestanas postiças?
Acreditem ou não, foi desta forma que esquadrinhei uma hora (55 minutos, vá, que aquilo ainda demora uns instantes) de alto rendimento com a motivação à flor da pálpebra. É ridículo não é? Eu sei que é. Estou de pijama, nem quero imaginar a logística que vai ser despi-lo, vestir-me e eteceteras sem danificar a obra de arte. Para além de que existe aqui um claro efeito placebo que não ignoro. Mas e se o placebo consciente nos ajudar a funcionar? Continua a ser placebo? Não sei se me interessa verdadeiramente descobrir a resposta mas já estou no comboio e deixei a secretaria um pouco mais arrumada do que estava antes. É muita força para um par de pestanas.
Comments