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Olhos bem abertos



Hoje cumprem-se 82 anos do fim da Guerra Civil de Espanha. É difícil explicar aqui como é que se conseguiu dividir um país ao meio daquela maneira mas a coisa foi muito parecida a uma jihad. Cidades ocupadas por nacionalistas eram nacionalistas. Cidade ocupadas por republicanos eram republicanas. Ambas deixavam as mesmas duas opções a quem lá vivia sem partilhar da ideologia dominante. A conversão ou a morte/prisão/atrocidade equivalente. Com as consequências óbvias, para aqueles cuja geografia não se coordenava com o coração: irmãos contra irmãos, pais contra filhos, tantas vezes à força.


Até hoje, as cicatrizes daqueles anos inscreveram-se nas peles dos que descendemos de quem lá esteve. Histórias das famílias separadas em metades a minha entre Zaragoza e Madrid, duas metades que não voltaram a ver-se. E um senhor debaixo de terra que tem o mesmo apelido que eu.


Apesar de que parece evidente que todos somos muito mais rastreáveis agora do que naqueles tempos, os sentimentos que desembocaram naquela separação são tão antigos como o próprio homem e não creio que cheguem alguma vez a desaparecer. Permanecem dormentes até que alguém - acontece de forma sinistramente cíclica - decide fazer aproveitamento de um momento histórico mais instável e oferecer às pessoas que não gostam da realidade o bode expiatório de que elas precisam para evitarem abordar com profundidade a origem dos problemas.


Olhos bem abertos.


(Na imagem, A Guerra Civil Contada aos Jovens", pela mão do meu escritor preferido. Uma contribuição para a construção de uma narrativa imparcial sobre uma ferida ainda por sarar.)

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