Nunca pensei assinar um título como este, mas tenho de reconhecer que resume na perfeição os dias de oliveiras ao sol de onde acabo de emergir qual animalzinho submarino arrancado do fundo do mar. Efetivamente, ainda estou a espernear, como peixe num convés, também eu asfixiada por um saco de plástico, que no meu caso também se designa por Equipamento de Proteção Individual. É que pertencer a um terra da qual estamos afastados a maior parte do tempo tem as suas vantagens. Isto é além dos gostos musicais diferentes, da sensação de estrangeirismo permanente e da nuvem de nostalgia que carregamos todos os que nos sentimos longe de casa. Se esquecermos esse “Estou além” do Variações que é a banda sonora dos meus passos e aguentarmos firmes durante os meses de ausência, invariavelmente, a cada 4 ou 5 meses podemos experimentar o “milagre da fronteira”. É instantâneo. O ar transforma-se. É aquela nota de laranjeira que pomos em todos os perfumes feitos deste lado. Aqueles que dizemos que cheiram a limpo. Os campos de girassóis até perder de vista. A água, que os nativos da Ibéria - Oeste insistem que não sabe a nada - com toda a razão - que me parece a coisa mais deliciosa do mundo. (Se me quiserem envenenar, dêem-me água do Luso). Nada disto é necessariamente melhor ou pior do que aquilo que me espera ao regressar - olhem para mim a tentar ser neutra - mas sabe a casa. Sabe furiosamente a uma casa da qual estivemos longe e por isso, da qual vivemos a mais ínfima insignificância como sagrada. Se ali vivêssemos, o efeito da repetição desgastaria o encanto. O reencontro seria banal. A magia desapareceria. Ou isso repetirei, estoicamente para mim mesma, até setembro.
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The Nutsbook
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