Já ninguém escreve cartas e é uma pena. Calma. Não envelheci 100 anos, sem dar por isso. É verdade que já ouvi esta mesma frase ser pronunciada por todo um desfile da flor da geriatria peninsular mas não creio que partilhe com ela o mesmo sentido.
Não sou, nem imagino que vá tornar-me nunca numa saudosa perdida, ancorada nos tempos e costumes passados, que perderam ressonância no tempo presente.
Mas com a extinção da carta, extinguiu-se muito mais do que o mero romantismo estilístico da forma. Extinguiu-se a coragem, em parte, obviou-se a necessidade da mesma, por inteiro.
Na ausência de emojis, as pessoas tinham tomates. E ovários, naturalmente. Não havia corações. Havia "amo-te". E nem sequer vou comentar a reputação corrente do emoji «beringela».
Esta é uma das principais vantagens da escrita. A maneira mais fácil que alguma vez terei de encostar o coração contra as cordas.
É a primeira vez que me sento a escrever desde que lançámos o livro e, de alguma maneira, sinto-me de novo na base da montanha. A escassos meses de escolher o que farei para o resto da vida, e onde o farei, nos próximos 4 a 6 anos.
Coincidência ou não, também acabei o caderno: o das histórias clínicas e o das histórias, ponto final.
Tinha um par de blocos de papel de carta numa gaveta, a acumularem pó à velocidade do tempo.
Fui buscá-los há bocado. A verdade é que não sei sobre o que escreverei a seguir. Mas há um monte branquinho e com linhas pautadas para escalar já aqui ao lado.
Comentários