Hi! - Começou por dizer a vozinha, discretamente e como quem não quer a coisa, mas firme e inequivocamente através do rádio do carro.
Oi? Que estação é esta? Não interessava. O que se seguiu iria dissipar as minhas dúvidas mas também infundir-me de um misto de tristeza e quase terror. Daquele terror das raras manhãs que já todos tivemos em que a primeira coisa que se faz ao acordar é perguntar se o dia ou a noite anterior aconteceram mesmo ou foram pesadelo; para confirmar com desespero que não sonhámos coisa nenhuma.
Era um anúncio dirigido aos cidadãos britânicos. Uma mini lista dos primeiros passos a tomar para poder continuar a residir em Portugal com as comodidades e direitos que até agora tinham por garantidos. Atenção, registem-se como residentes. Inscrevam-se como utentes do SNS. Substituam a carta de condução por uma portuguesa. O Pacote Básico. Para começar.
Fui investigar. A campanha arrancou em pleno e vai assombrar as nossas televisões, rádios e outdoors até 2021. E a única coisa que me ocorre perguntar é "Mas o que é que nós fizemos?" Nós. O americaníssimo "we, the people". Todos temos algo de culpa no cartório, enquanto sociedade, por mais nacional que tenha sido aquela escolha.
Quando era pequena, ensinaram-me que a única falha da democracia é a ausência de garantia de que os cidadãos tomem a opção intrinsecamente boa. A correta, se ela existir, ou, a bem do realismo, aquela que mais contribua para o bem comum.
O peso das escolhas de uma sociedade recai sempre nos ventos de que ela bebe e também nós somos responsáveis. Pelo ódio, pela intolerância, pela iliteracia, pelo individualismo, mas, acima de tudo, pela passividade. Pelos braços cruzados dos bons da fita face aos esforços laboriosos do lado contrário.
É tempo de assumir as suas consequências. Retiremos conclusões. Sigamos em frente. E olhemos com orgulho para aquela bandeirinha azul com estrelinhas que decora as nossas cartas de condução. Por enquanto.
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